Resumidamente, compliance é um programa que estabelece e incentiva regras de conduta, políticas e diretrizes para o negócio e atividades da empresa, como parte integrante da cultura corporativa, a fim de garantir o cumprimento das normas legais e regulamentares, bem como evitar, detectar e tratar quaisquer desvios ou inconformidades que possam prejudicar a reputação da empresa no mercado.
O termo tem origem do verbo em inglês “to comply”, que significa “cumprir”, e está ligado ao compromisso das empresas com as regulamentações impostas.
Ou seja, estar em compliance significa estar aderente às normas internas e externas à organização, tais como políticas, normativos, leis e regulamentos. Mas, muito mais do que uma mera imposição jurídica, as práticas de compliance visam a construção de uma cultura empresarial ética e transparente.
Qual a importância do compliance?
Com a globalização e abertura dos mercados nacionais para empresas e investidores estrangeiros, o compliance passou a ter cada vez mais importância dentro das organizações.
É claro que respeitar as normas legais e combater a corrupção sempre foram importantes pautas para as empresas, mas hoje há elementos que tornam a situação muito mais complexa.
Em primeiro lugar, cada país tem um conjunto de regras que as empresas precisam respeitar, seja qual for sua origem. Se a companhia é brasileira, mas vende produtos para os Estados Unidos, por exemplo, vai precisar seguir as leis do Brasil e também do país americano.
Outro fator que aumenta a importância do compliance é o fato de as marcas estarem, mais do que nunca, expostas por meio da Internet e das mídias sociais. Ou seja, com consumidores cada vez mais conscientes na hora de escolher produtos e serviços, as marcas e empresas com boa reputação, que demonstram agir com ética e transparência em aspectos econômicos (honestidade e negociações justas) e de responsabilidade social (como educação, sustentabilidade e ações que impactam positivamente a sociedade), certamente terão uma boa vantagem competitiva.
Frente a essa nova realidade, jogar com as regras de forma ética e transparente virou condição essencial para manter-se no mercado.
Essas mudanças também tornaram os investidores mais exigentes, que passaram a avaliar mais do que informações sobre mercado, inovação e dados corporativos (como balanço, lucro e custos operacionais). É inegável que nunca antes se avaliou tantos componentes para a decisão final de onde alocar os recursos.
Podemos perceber que as seguidas crises econômicas, políticas e éticas trouxeram para o ambiente empreendedor a necessidade de avaliar, também, o risco do negócio quanto à existência de práticas corruptas ou procedimentos irregulares, passando a demandar a investigação da integridade dos ativos a serem objeto de aquisição ou investimento.
Nesse sentido, o compliance e as boas práticas de governança deixaram de ser apenas uma busca pelo cumprimento de um check list para se transformar em valor competitivo para as empresas.
A transformação digital e a ética dos negócios, fomentadas pelo crescente uso das tecnologias; o aumento de casos de vazamento de dados e de informações, envolvendo a manipulação e divulgação de dados; e o impacto da pandemia na gestão empresarial, que precisou adequar-se ao trabalho remoto, trouxeram um futuro de desafios cada vez mais complexos para o compliance.
Principais tendências para o compliance
Nesse contexto de evolução, o compliance do futuro deverá estar preparado estrategicamente para atender às principais questões e tendências, apontadas abaixo:
- Privacidade de Dados e Compliance Digital
A conscientização da sociedade quanto à privacidade de seus dados pessoais é crescente e as empresas precisam garantir que toda a sua infraestrutura tecnológica funcione corretamente e siga as normas de segurança voltadas para essa área.
O crescimento do fluxo de informações geradas e compartilhadas aumenta ainda mais a necessidade de se controlar a rede corporativa através do compliance digital – conjunto de regras e ações internas que regulam as atividades desenvolvidas pelas empresas para estarem em conformidade com as normas vigentes e aplicáveis à tecnologia da informação.
O compliance digital e as boas práticas de governança englobam critérios que deverão ser respeitados para o tratamento e uso de dados, bem como, as políticas (diretrizes) de privacidade e de segurança da informação, que deverão ser seguidas por todos os colaboradores da empresa.
Essas medidas estão relacionadas, principalmente, à implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em 2020.
- Fortalecimento da Tecnologia e Automação para Inteligência de Dados
A digitalização de processos expandiu o leque de oportunidades de atividades ilícitas.. De acordo com o Relatório Global de Fraude da Kroll, em 2020 o aumento de operações suspeitas de lavagem de dinheiro e financiamentos de risco foi de 40%. Esse número teve como principal influência a pandemia, por causa da quantidade de usuários migrando para o mundo digital, do aumento no número de transações financeiras online, bancos digitais e do maior número de aplicativos mobile.
Frente a esse cenário, as empresas estão direcionando seus esforços para investimentos em tecnologia de proteção de dados, segurança da informação e automação para a conformidade operacional.
Inclusive, a automação dos processos relacionados ao compliance não só aumenta a eficiência operacional, como também proporciona uma melhor experiência para a empresa, que terá um banco unificado de dados e resultados e um fluxo de processos bem delimitado, que facilita a rastreabilidade das tarefas para fins de BI (business inteligence) e auditoria, além da redução de influências e erros humanos.
- Implementação de programas internos de conscientização
A implementação de programas internos de conscientização da importância do compliance é fundamental para alcançar os resultados desejados com os objetivos e estratégias, tornando-se parte intrínseca do dia a dia da organização.
É importante ter em mente que empresas são pessoas jurídicas compostas por pessoas físicas e que, sem regulamentos que orientem suas condutas, as possibilidades de ocorrerem comportamentos indesejados são maiores.
O envolvimento e apoio dos colaboradores ao programa de compliance contribui não só para inibir condutas incorretas, mas também para melhorar a satisfação e retenção de talentos por seu efeito positivo na imagem da empresa.
É inegável que trabalhar em uma empresa correta, que cumpre todas as normas, é muito mais satisfatório por proporcionar uma sensação de segurança e orgulho a seus colaboradores.
- Investimento na gestão de crises
Todo o cenário de aumento de casos de vazamento de dados e de informações de empresas no mercado, algumas de grande porte como o escândalo do vazamento de dados do Facebook, em 2018, tem chamado a atenção dos brasileiros e pode impactar gravemente a credibilidade da marca, comprometendo sua reputação, acarretando perda de confiança de seus clientes e stakeholders e, principalmente, influenciando na queda dos resultados econômicos do negócio.
Dessa forma, torna-se cada vez mais estratégico e essencial a preparação da equipe de compliance para a gestão de crises, com o intuito de diminuir os impactos negativos causados dentro e fora da organização. É preciso saber lidar de forma proativa, ágil e eficiente diante de quaisquer questões de segurança digital, especialmente as relacionadas ao vazamento de dados pessoais dos clientes, colaboradores, parceiros etc.
Porém, vale lembrar que o trabalho da equipe de compliance deve ser constante e ter melhorias contínuas, mesmo quando não há histórico de condutas inapropriadas ou falhas na segurança dentro da organização, pois o programa de compliance é preventivo, ou seja, existe para evitar riscos e problemas relacionados à sua integridade, não para remediá-los.
Só o fato de existir um programa de compliance evita, muitas vezes, que problemas como vazamento de dados e outras irregularidades aconteçam. Mas, se ainda assim, ocorrerem, é preciso que esse problema seja detectado o quanto antes pelo sistema, para que a equipe de compliance entre em ação o mais rapidamente na tentativa de que esse seja apenas um acontecimento isolado e não se transforme em uma verdadeira crise.
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